Após agressões, árbitros desistem do Varzeano

Quatro membros da Associação Sorocabana de Árbitros (ASA) solicitaram ontem que não sejam mais escalados para trabalhar em jogos de futebol. Marcelo da Silva Santos, Edmo Moreira dos Santos, Alexson Ferreira Barbosa e Júlio César Rodrigues decidiram se afastar dos campos por causa dos constantes casos de violência na várzea sorocabana.


No último domingo, um árbitro e dois assistentes foram agredidos em jogos da Taça Cidade. A ASA, que tem contrato com a Prefeitura até julho para fornecer a arbitragem às competições organizadas pela Secretaria Municipal de Esportes (Semes), teme novas baixas e ventila a possibilidade de não ter quadro para as próximas escalas.


Ontem, cada um dos árbitros tomou individualmente a iniciativa de parar, sem consultar os colegas. Nas justificativas, alegam falta de segurança para trabalhar nas partidas, impunidade aos agressores e pressão familiar. "Tenho amor à minha vida. Não quero que meu nome se torne um logradouro público em homenagem aos feitos prestados à arbitragem", afirma Marcelo da Silva Santos, que tem 46 anos de idade, é vendedor e apita partidas de futebol e futsal há 15 anos. Ele diz ter tomado uma decisão definitiva: "Futebol eu não quero fazer nunca mais. Pode mudar a lei, mas os jogadores são os mesmos, os problemas são os mesmos."


Cantor em casas noturnas, Marcelo afirma que se ressente de não passar mais tempo com a família e os amigos em troca de apitar jogos e correr perigo. "Só vai acabar quando um morrer. Eu não quero ser o primeiro. Prefiro muito mais ficar cantando à noite do que correndo risco", comenta. Já Edmo Moreira dos Santos, outro que resolveu pendurar o apito, conta ter recebido pressão da família para deixar a carreira. "Minha mãe e meu filho, vendo o que está acontecendo, começaram a se preocupar com minha integridade e depois do que houve com o Geraldo tomei a decisão", diz, referindo-se a Geraldo Bertalozzo, um dos assistentes agredidos no domingo.


Supervisor de vendas de 39 anos de idade e na sua primeira temporada como árbitro em Sorocaba (já havia feito jogos em Araçoiaba da Serra, de onde se afastou também por falta de segurança), Edmo afirma que o emprego foi outro fator que pesou na decisão de deixar os campos. "Como vou aparecer na segunda-feira com um olho inchado, um braço quebrado?", questiona. "Não dá para atrapalhar meu trabalho por causa de um bico".


Sem quadro


Eliseu Sentelhas, diretor da ASA responsável pela escala da arbitragem, diz temer pela falta de quadro para as próximas rodadas dos campeonatos varzeanos da cidade. Segundo ele, a entidade ainda cogita não entrar na licitação que a Prefeitura deve abrir em breve para uma nova contratação -- o atual contrato entre a Associação e a Prefeitura termina em julho e não pode ser renovado.


Alterações no Código


O secretário municipal de Esportes, Cláudio Bacci, afirmou ontem que o texto do novo Código Disciplinar Municipal foi aprovado pelo prefeito Vitor Lippi (PSDB) e segue agora para a Secretaria de Negócios Jurídicos, que fará o projeto de lei para ser votada pelos vereadores. Dentre os pontos da reformulação do Código, está a eliminação de times que tiverem seus jogadores, técnicos, dirigentes ou torcedores envolvidos em casos de agressão. Ainda não há previsão para que o projeto seja enviado à Câmara Municipal.


Entenda o caso


Na rodada do último domingo da Taça Cidade, um árbitro e dois assistentes foram agredidos em jogos diferentes. O assistente Geraldo Bertolazzo tomou um soco no rosto logo depois da derrota do Comercial para o Canto do Rio por 2 a 1 no estádio Amanda de Almeida. Segundo ele, a agressão teria partido de um dirigente do Comercial, revoltado pela marcação de um impedimento no gol que daria o empate a seu time. O policiamento esteve no campo até os 40 minutos do segundo tempo, mas foi embora antes da partida terminar. Também no domingo, o assistente Dimas Alberto Cavachini e o árbitro Evanildo Natalino André foram agredidos no estádio Rogélio Moraes, por jogadores e integrantes da comissão técnica do Canto do Rio. O time enfrentava o Ipê. A agressão aconteceu instantes depois de guardas civis municipais deixarem o local. Os casos de violência começaram no dia 17 de abril, quando o árbitro Luiz Carlos Moreno foi espancado por cerca de 50 torcedores do Aparecidinha.


Situação pode ficar pior no 2.º semestre


Os árbitros que resolveram desistir de apitar jogos em Sorocaba fazem um alerta: se a situação é grave atualmente, pode ficar ainda pior na Taça Palácio dos Tropeiros, a segunda divisão do Varzeano e, principalmente, na Taça Baltazar Fernandes, a terceira divisão.


"As partidas acontecem em campos que não são cercados e o número de jogos é muito grande. Aí sim não vai ter policiamento para tudo", diz Edmo Moreira dos Santos. Na Taça Baltazar, inclusive, os jogos acontecem sem a presença de assistentes, apenas com o árbitro em campo. "A gente passa no meio da torcida, isso é muito perigoso. Vem um soco e você nem sabe de onde", conta.


Já Marcelo da Silva Santos salienta o gosto que as pessoas que se dedicam à arbitragem têm pela função. "A gente vai fazendo por amor ao esporte, mas chega uma hora que não dá, é complicado". Ele reclama do que classifica de "descaso" da Prefeitura. "O campeonato é dela. A Guarda Civil Municipal é dela. Então, tem que garantir segurança."


(Jornal Cruzeiro Do Sul - Rodrigo Gasparini)

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